domingo, fevereiro 17, 2008

Abraço do escuro


Velhos tempos,
passava dias, horas, minutos, segundos!
A projectar o mesmo filme na minha cabeça.
Cobria-te com o cheiro das flores da época,
de pequenos e calorosos toques labiais,
provava o néctar da tua pele.
Perdia-me a contemplar com júbilo
o meu reflexo no espelho natural dos teus olhos,
o único lugar onde poderia alguma vez ter brilho.
O descobrir,
o aprender
o viver as coisas intensamente.
O beber o prazer até à exaustão.
Não sobrou muita coisa para fazer senão todas aquelas coisas
que nos roubam os anos
a esperança
e nos matam lentamente.
O belo e o feio adquirem novos contornos.
Confuso
tento arrumar tudo
separar passado, presente e futuro
mas acaba tudo na mesma gaveta.
Prefiro fechar tudo à chave e esperar sem expectativa
o abraço do escuro.

Durmo, durmo, durmo...

(Sérgio Minhós)
27-11-06

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Nevoeiro


Nevoeiro denso paira nas minhas ideias
lugar de montanhas e falésias onde tu existes,
onde o Céu é sempre cinzento e o Mar é perpetuamente negro.
A alegria há muito deu lugar a um estado entre dois mundos,
moribundo por dentro e vazio por fora.
Apenas restou a pele dos amores fracassados.
O nevoeiro esse, serve de companhia para um olhar melancólico e turvo
das lágrimas derramadas num passado recente.
Tudo o que sempre desejei foi conquistar teu inalcançável coração,
Mar.

Um abismo onde o tempo não tem pressa em caminhar é onde me aprisionaste,
como outro dos teus muitos náufragos e corpos vergados às evidências de um amor proibido.

(Sérgio Minhós)
31-03-07